sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A INFLUÊNCIA DO ESPAÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL



A estrutura física e a organização do espaço escolar são os primeiros elementos que auxiliam o visitante a formar uma opinião a respeito da política pedagógica da escola. Conceitos como modernidade, tradicionalismo, conservadorismo e religiosidade também são evidentes na imagem visual da instituição. A higiene e profilaxia da escola, o estado dos muros, paredes e grades, são elementos que assinalam ao transeunte o desvelo e a importância que os gestores e corpo docente dedicam à instituição. De acordo com Dayrell
  • A arquitetura e a ocupação do espaço físico não são neutras. Desde a forma de construção até a localização dos espaços, tudo é delimitado formalmente, segundo princípios racionais que expressam uma expectativa de comportamento de seus usuários (...). O espaço arquitetônico da escola expressa uma determinada concepção educativa. (1996, p. 147)
Assim, o espaço físico, definição que substituiremos por espaço-ambiente de aprendizagem, interage com o educar no processo de ensino-aprendizagem. O espaço interno, não deixa de causar maior impressão àqueles que adentram as portas da instituição ou as salas de aprendizagem. Os cartazes e painéis de atividades dos alunos afixados na parede, tão comuns nas instituições de ensino, são extraordinários megafones que gritam ressonantes a concepção de criatividade e autonomia que a escola propicia aos educandos. Este, provavelmente, é o conceito expresso por Malaguzzi ao afirmar a respeito da organização dos espaços da escola deReggio Emilia que “as paredes de nossas pré-escolas falam e documentam” (Apud GANDINI, 1996, p. 155).
Mas o que se entende por “espaço escolar”? Por meio esta expressão compreendemos um ambiente de convivência em que se desenvolvem todas as relações entre o corpo docente e discente, gestores, pais e toda a equipe técnica da instituição. Segundo o quadro a seguir, este espaço pode ser:

Quadro 1 - Qualidade do espaço físico
Positivo
Negativo
Criativo e acolhedor
Monótono e desagregador
Provocador de estímulos visuais e cognitivos
Sem qualquer estímulo visual e cognitivo
Vívido e organizado
Indiferente e desorganizado

O espaço escolar como elemento pedagógico deve refletir a política pedagógica, a filosofia, as concepções de educação e as práticas escolares apropriadas às diferentes idades e níveis de desenvolvimento. 
Mas infelizmente, algumas escolas estão longe desse ideal. O espaço escolar como a área física interna e externa ocupada pela escola, distingui-se, em nossa particular interpretação, do espaço-ambiente de aprendizagem. Podemos afirmar que todo espaço-ambiente de aprendizagem integra a concepção de espaço-escolar ou área física, mas nem todo espaço-escolar é um ambiente de aprendizagem integral. Uma sala de aula pode ser nada mais do que um aglomerado de cadeiras à espera de ocupação. Todavia, um espaço-ambiente de aprendizagem educa pelo olhar, pelos variados estímulos que provocam à curiosidade da criança ou do educando.
Um espaço pode ainda ser definido como uma extensão tridimensional ilimitada, neutro, até mesmo incongruente com os objetivos educacionais. É impessoal. O ambiente, no entanto, transcende ao conceito de espaço; é tudo aquilo que cerca os seres vivos. É dinâmico, vivo, criativo, provocador, estimulante. A linguagem do espaço-escolar é monossêmica, entretanto, do espaço-ambiente de aprendizagem, polissêmica.
Toda sala de aula apresenta um conceito, cuja importância do aluno em algumas delas é apenas secundário. Embora alguns espaços sejam amplos, estão longe da fala de Filippne que aponta o espaço físico, aqui, espaço-ambiente de aprendizagem, “como um ‘container’ que favorece a interação social, a exploração e a aprendizagem” (Apud GANDINI, 1996, p.147). Ela considera o espaço como recurso metodológico, carregado de “conteúdo” educacional que estimule a experiência e a aprendizagem construtiva da criança (veja o vídeo).
Produzido pela TV Escola - E.M.E.I. D.Pedro I - SP
Lembro-me, por ocasião de uma de minhas visitas em escolas de educação infantil, de certa sala de aula que não possuía qualquer estímulo para o aprendizado do alunato. A cortina com temas da Disney impedia que se usasse a parede como elemento instigador da aprendizagem. Um quadro de pregas, estava atrás da mesa da professora, sem que fosse possível identificar o propósito fundante de tal elemento. A sala era própria para proteger da chuva e do sol, mas não da monotonia, da regularidade, do desânimo. Afirma Malaguzzi (1996), entretanto, que o espaço deve ser uma espécie de aquário que espelhe as idéias, os valores, as atitudes e a cultura das pessoas que vivem nele.
Um espaço gélido, como o anteriormente descrito, além da falta de estímulos para uma educação emancipadora, não respeita a criança como sujeito de direito, além de demonstrar o perfil educacional da escola e a desconsideração que possuem pelas suas crianças. Em última instância, reflete o programa educacional adultocêntrico. O banheiro, por exemplo, é este, sem dúvida, um espaço marginal e lúgubre dentro da escola, completamente inadequado para as crianças. Enquanto, na verdade, deveriam ser mais um espaço para estimular a aprendizagem por meio de múltiplos recursos tais como:
  • O uso de espelhos em diferentes formatos para que as crianças brinquem e aprendam com suas imagens em diversos ângulos;
  • Identificações alegres dos sanitários destinados ao uso feminino e masculino;
  • Mensagens de estímulos à higienização das mãos, do espaço como elemento saudável da rotina escolar, entre outros.
Temos ao contrário, quando ao menos se procura adaptar um banheiro, espaços com lavabos que mais parecem mictórios e, o pior, em condições precárias. Ambiente repugnante.
Socorramo-nos com as palavras de Greenmann que, a respeito da concepção do espaço e do ambiente, afirma
  • Um ambiente é um sistema vivo, em transformação. Mais do que espaço físico, inclui o modo como o tempo é estruturado e os papéis que devemos exercer, condicionando o modo como nos sentimos, pensamos e nos comportamos, e afetando dramaticamente a qualidade de nossas vidas. O ambiente funciona contra ou a nosso favor, enquanto conduzimos a nossa vida (Apud. GANDINI, 1996, p.157).
Portanto, como é possível a inserção da criança em um espaço escolar que não a respeita como pessoa de direito? Oliveira afirma que
  • Para alguns professores, a qualidade do ambiente na creche ou pré-escola diz respeito apenas a suas características psicofísicas e/ou higiênicas: arejamento, iluminação, conforto, número de crianças por metro quadrado, relação existente entre mobiliário e equipamentos. No entanto, todo contexto ambiental é um sistema de inter-relações dos vários componentes físicos e humanos que dele participam (1994, p. 194).
Logo, o educador necessita educar o olhar a fim de avaliar criticamente o espaço físico para que este se torne em múltiplos espaços de aprendizagem.
FONTE: http://educarvivereaprender.blogspot.com


 
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